terça-feira, 30 de outubro de 2012

"Mensagem", Fernando Pessoa

Mensagem é sem dúvida a obra-prima onde Fernando Pessoa lapidarmente imprimiu o seu ideal patriótico, sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas.
A Mensagem poderá ser vista com uma epopeia. Porque parte dum núcleo histórico, mas a sua formulação sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, sua estrutura será dada pelo que, noutra ideias/forças desse povo: regresso do paraíso, realização do impossível, espera do messias… raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva.
Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, e ergueram a personalidade, separada, ou plasmaram na sua altura própria; mas Mães, as que estão na origem das suas dinastias, cantadas como “Antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorreram o mar em busco do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma missão transcendente); e, finalmente, depois dessa missão cumprida, dessa realização. Na era crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – o Encoberto.

A estrutura da obra
Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a dum mito numa teoria cíclica, a das Idades, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento. Desenvolvendo-a como uma ideia completa, de sentido cósmico, e dando-lhe a forma simbólica tripartida – Brasão, Mar Português, O Encoberto. Que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte; essa conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – o Quinto Império. Assim, a terceira parte, é toda ela cheia de avisos, preenche de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem á luz: depois da Noite e Tormenta, vem a Calma e a Antemanhã: estes são os Tempos. E aí sempre perpassarão, com um repetido fulgor, sempre a mesma mas em modelações diversas, a nota da esperança: D. Sebastião, O Desejado, O Encoberto…
É dessa forma, o mítico caos, a noite, o abismo, donde surgirá o novo mundo, “Que jaz no abismo sob o mar que se segue”.

A Mensagem está dividida em três partes. Esta tripartição corresponde a três momentos do Império Português: nascimento, realização e morte. Mas essa morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e espiritual.

Mensagem
Carácter épico-lírico
· A Mensagem é uma obra épico-lírica, pois, como uma epopeia, parte de um núcleo histórico (heróis e acontecimentos da História de Portugal), mas apresenta uma dimensão subjectiva introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo.
O mito
· As figuras e os acontecimentos históricos são convertidos em símbolos, em mitos, que o poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor define essa definição simbólica da matéria histórica da Mensagem.
Sebastianismo
· A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, pois, num sebastianismo messiânico e profético.
Quinto Império: império espiritual
· É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império no passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial, material, o Quinto Império, anunciado na Mensagem, é um espiritual. “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos… “A Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.

1. Nascimento – 1ª Parte “Brasão”Fundação da nacionalidade, desfile de heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebastiao.
2. Realização – 2ª Parte “Mar Português”Poemas inspirados na ânsia do Desconhecido e no esforço heróico da luta com o mar. Apogeu da acção portuguesa dos Descobrimentos, em poemas como “O Infante”, “O Mostrengo”, “Mar Português”.
3. Morte – 3ª Parte “O Encoberto”Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”; afirmação do sebastianismo representado na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto Império.

"Os Lusíadas" vs "A Mensagem"


A Mensagem não é um “poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética dos Lusíadas”. O que seria uma exaltação de valores nacionais converteu-se numa exortação renovadora e corajosa a D. Sebastião (vivo – Lusíadas – ou como mito – Mensagem).
Os Lusíadas foram dedicados a um povo guerreiro e a um Rei aventureiro, em A Mensagem, esse mesmo Rei está humilhado e despido de coisas humanas, por isso, consideramos que toda a História, toda alegria, toda emoção, toda aventura e toda glória descrita, em Os Lusíadas constitui uma esperança e em A Mensagem, um sonho, uma utopia, “Sem a loucura que é o homem/mais que a besta sadia,/cadáver adiado que procria?”(Mensagem).
Como Prado Coelho afirmou, “Em contraste com o realismo d’Os Lusíadas (…) a Mensagem reage pela altiva rejeição a um «Real» oco, absurdo, intolerável, propondo-nos em seu lugar a única coisa que vale a pena: o imaginário”.

Adaptado: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/portugues/portugues_trabalhos/lusiadasmensagem.htm

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Reflexões do Poeta

As reflexões do poeta vão do Canto I ao Canto X

Canto X

No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.

E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.

Olhai que ledos vão, por várias vias,
Quais rompentes liões e bravos touros,
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a setas e pelouros,
A quentes regiões, a plagas frias,
A golpes de Idolatras e de Mouros,
A perigos incógnitos do mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo.

Por vos servir, a tudo aparelhados;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos ásperos mandados,
Sem dar reposta, prontos e contentes.
Só com saber que são de vós olhados,
Demónios infernais, negros e ardentes,
Cometerão convosco, e não duvido
Que vencedor vos façam, não vencido.

Favorecei-os logo, e alegrai-os
Com a presença e leda humanidade;
De rigorosas leis desalivai-os,
Que assi se abre o caminho à santidade.
Os mais exprimentados levantai-os,
Se, com a experiência, têm bondade
Pera vosso conselho, pois que sabem
O como, o quando, e onde as cousas cabem.

Todos favorecei em seus ofícios,
Segundo têm das vidas o talento;
Tenham Religiosos exercícios
De rogarem, por vosso regimento,
Com jejuns, disciplina, pelos vícios
Comuns; toda ambição terão por vento,
Que o bom Religioso verdadeiro
Glória vã não pretende nem dinheiro.

Os Cavaleiros tende em muita estima,
Pois com seu sangue intrépido e fervente
Estendem não sòmente a Lei de cima,
Mas inda vosso Império preminente.
Pois aqueles que a tão remoto clima
Vos vão servir, com passo diligente,
Dous inimigos vencem: uns, os vivos,
E (o que é mais) os trabalhos excessivos.

Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só d'exprimentados
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe.
Mais em particular o experto sabe.

De Formião, filósofo elegante,
Vereis como Anibal escarnecia,
Quando das artes bélicas, diante
Dele, com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.

Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Tem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.



Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pres[s]aga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,

Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.

O poeta volta a referir-se à importância das Letras e diz que está cansado de se dirigir a quem não quer escutar o seu canto, «gente surda e endurecida».
Os últimos versos de «Os Lusíadas» revelam sentimentos contraditórios - -desalento, orgulho, esperança.

«No mais, Musa, no mais […]» o poeta recusa continuar o seu canto, não por cansaço, mas por desânimo. O seu desalento advém de constatar que canta para «gente surda e endurecida[…] metida / No gosto da cobiça e na rudeza / Dhũa austera, apagada e vil tristeza.». É a imagem que nos dá do Portugal do seu tempo.
Por contraste, mostra o orgulho naqueles que continuam dispostos a lutar pela grandeza do passado e a esperança de que o Rei saiba estimular e aproveitar essas energias latentes para dar continuidade à glorificação do «peito ilustre lusitano» e dar matéria a novo canto. O poeta encerra a sua obra com uma mensagem que abarca o passado, o presente e o futuro. A glória do passado deverá ser encarada como um exemplo presente para construir um futuro grandioso.

Adaptado: http://secnoite.blogspot.pt/2010/11/lusiadas-as-reflexoes-do-poeta.html

O Velho do Restelo

Vasco da Gama é o narrador que canta ao rei de Melinde – narratário – a história de Portugal.
Esta narrativa é feita em in media res” e no decorrer da conversa surge umaestreita correlação entre o episódio “Despedidas em Belém” e o episódio “O Velho do Restelo”.
Ponto d situação: aglomerado de pessoas no porto, para se despedir dos entes queridos que partiam para a Índia. No meio desse ambiente emocionado, destaca-se a figura imponente de um velho que, com a sua "voz pesada", ouvida até nas naus, faz um discurso condenando aquela aventura cujo propósito, segundo ele, é a cobiça, o desejo de riquezaspoder fama.
O velho interveio junto dos navegadores portugueses que se aprestavam para partir para a empresa marítima da Índia, no sentido de os alertar contra os perigos da ambição em excesso e da cobiça pelas riquezas vindas do Oriente.  Diz o velho que, para enfrentar desnecessariamente perigos desconhecidos, abandonavam os perigos urgentes do seu país, ainda ameaçado pelos mouros.

Simbologia
Representa uma corrente desfavorável à expansão para o Oriente, mais tolerante em relação à guerra no Norte de África. Traduz, ainda, o medo do desconhecido e a hesitação perante a novidade.
As falas das mães e das esposas representam a reacção emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”). É a expressão rigorosa do conservadorismo.
Como o Velho do Restelo, pensavam muitos naqueles tempos, assim como muitos pensam hoje em relação a assuntos semelhantes, como a conquista espacial ou a manipulação genética, por exemplo.
Quando representa a voz do bom senso e da fria razão assume a dimensão depersonagem alegórica – personagem que defende um ideal/princípio.
O seu discurso denuncia a suposta irresponsabilidade dos marinheiros que se deixavam levar por promessas fantasiosas, pela vitória, para uma aventura com consequências trágicas
Poder-se-á referir que todo o discurso desta figura se contrapõe á ambição explicitada ao longo da viagem realizada por Vasco da Gama. É o negar do sonho, da ambição, da capacidade de iniciativa, logo no seu discurso há:
A voz do senso comum, dado que ele defendia a quietude simples, a rotina, a anulação do desejo.
A negação do mar, porque as suas palavras não reflectem o desbravar dos mares, o conhecimento dos “húmidos caminhos”, mas sim, a ligação à terra, às lutas em terra travadas com os Mouros no norte de África. Ignora a natureza aventureira e bem sucedida dos portugueses.
Um mito humanístico, pois valorizava as batalhas no norte de África, nomeadamente as conquistas em Marrocos.

Adaptado: http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/portugues/12_velho_do_restelo.htm

Mitificação do Herói de "Os Lusíadas"

Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. O poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende à universalidade, pois louva não só os Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas é a grande prova dessas capacidades: a de se impor à natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que respeita ao amor e talvez o mais importante, o poder de edificar a vida face ao destino. De não ser vítima da fatalidade. De se libertar e de ser sujeito do seu próprio destino. Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com os modelos antigos, com o apogeu na divinização dos heróis. 


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mitologia em "Os Lusíadas"



Baco – Deus do vinho, filho de Júpiter e de Sémele. As suas conquistas chegaram até à Índia. É, em Os Lusíadas, o deus contrário aos portugueses, encarregado de semear obstáculos no seu caminho.

Júpiter – O pai dos Deuses, filho de Saturno e de Reia.

Marte – Deus da guerra, filho de Júpiter e de Juno. Presidia a todos os combates, mas nem por isso era pequena a ternura que votava a Vénus, por apaixonadamente amada. Era representado na figura de um guerreiro, completamente armado, com um galo junto de si.

Mercúrio – Deus da eloquência, do comércio e dos ladrões, filho de Júpiter e de Maia.. Era o mensageiro dos deuses, particularmente de Júpiter, que lhe pegara na cabeça e nos calcanhares asas para as suas ordens serem executadas com uma maior rapidez.

Neptuno – Filho de Saturno e de Reia, irmão de Júpiter e de Plutão. Deus do Mar, casou com Anfitrite.
Era representado com um tridente na mão sobre um coche puxado por cavalos-marinhos.

Thetis – Thetis, deusa do Mar, é uma das Nereidas, filha de Nereu, o velho do mar, e de Dóris. É por consequência uma divindade marinha e imortal e é a mais célebre de todas as Nereidas. Era a amada do Adamastor.

Vénus – Deusa do Amor e da beleza, filha do Céu e da Terra. Apresentada por Camões como protectora dos portugueses.


Adaptado: http://www.notapositiva.com/resumos/portugues/dicmitologlusiadas.htm

http://oslusiadas.no.sapo.pt/mitologia.html