quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Visão Crítica




A perspectiva do narrador em Memorial do Convento apresenta uma visão crítica da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVIII. Com isto verificamos que a obra transpõe a classificação de romance histórico, pois não se trata apenas de uma reconstituição de um acontecimento histórico, é antes um testemunho intemporal e universal do sofrimento de um povo sujeito à tirania da corte e sociedade da altura.

Na obra predomina o tom irónico (e até mesmo sarcástico) do narrador. É descrito o comportamento leviano do rei, a sua vaidade desmedida e as promessas megalómanas de que resulta o sofrimento do povo. 

O clero, que exerce o seu poder sobre o povo, também não escapa ao olhar crítico do narrador. A actuação da Inquisição é criticada ao longo do romance, nomeadamente, através da apresentação de diversos autos-de-fé e das pessoas que contemplam as fogueiras onde se queimam os condenados.

Verificamos, assim, que a crítica prevalece nas personagens de estatuto social privilegiado pois o narrador denuncia as injustiças sociais, a omnipotência dos poderosos e a exploração do povo que é evidenciada nas miseráveis condições de trabalho dos operários do convento de Mafra; isto acontece ao mesmo tempo que denota empatia face aos mais desfavorecidos, cujo esforço elogia e enaltece.

A crítica ainda se estende à Justiça portuguesa da altura, que castigava os pobres e despenalizava os ricos.

Em suma, Memorial do Convento, ao problematizar temas perfeitamente adaptáveis à época contemporânea do autor, constitui acima de tudo uma reflexão crítica, conducente a uma releitura do passado e à correcção da visão que se tem da História.


Adaptado de: http://webfoliodovitor.blogspot.pt/2012/05/memorial-do-convento-visao-critica.html

Contextualização da ação da obra "Memorial do Convento"


Estrutura

A estrutura de um romance assenta na coexistência de vários conflitos que se enredam e através do texto manifestam ou desocultam a realidade e os problemas do ser humano.
Em Memorial do Convento, observa-se uma reinvenção da História, de actos e de comportamentos para despertar os leitores para situações reais perturbantes que devem ser analisadas.  Pela ficção e com a sua palavra reveladora e denunciadora, José Saramago propõe o repensar da História à luz das mentalidades actuais e possibilita a consciencialização sobre a verdade do homem. Assim, consegue a missão do escritor 
que, numa realização estética, fornece uma mensagem ética.

A estrutura de Memorial do Convento apresenta duas linhas condutoras da acção – construção do convento de Mafra e a relação entre Baltasar e Blimunda – que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na História ou fantasiados.

Memorial do Convento está dividido em vinte e cinco partes, ou capítulos, não nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecidas pelos espaços em branco que as separam.

Acção

    O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu Lourenço são os protagonistas das acções da obra.
    Acção principal – construção do convento de Mafra.
   Acções secundárias – construção da passarola e a relação entre Baltasar e Blimunda.
   A acção principal decorre no século XVIII. Ambiente da época: sofrimento dos trabalhadores do convento, condição social e económica do país, autos-de-fé, comportamento do clero, etc.
  O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu protagonizam as diversas acções que se entretecem em Memorial do Convento.

      A acção principal é a construção do convento de Mafra. Esta acção resulta da reinvenção da História pela ficção. Situando-se no início do século XVIII, encontra-se um entrelaçamento de dados históricos, como o da promessa de D. João V de construir um convento em Mafra, e o do sofrimento do povo que nele trabalhou. Conhece-se a situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola voador pelo padre Bartolomeu de Gusmão, as críticas ao 
comportamento do clero, os casamentos da infanta D. Maria Bárbara e do príncipe D. José.

      Paralelamente à acção principal, encontra-se uma acção que envolve Baltasar Sete - Sóis e Blimunda Sete - Luas. São estas as personagens que estabelecem, muitas vezes, o fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.

      A centralidade conferida às obras do convertido e os espaços sociais de Lisboa ou de Mafra dão frequentemente lugar a uma intriga de profunda humanidade trágica. As duas acções voluntariamente surgem em fragmentos que se reconstituem por encaixes vários e recriam situações, costumes, tradições, ambiente e problemas.




Espaço

      Os espaços principais são Lisboa e Mafra. Principais locais referidos na capital: Terreiro do Paço, Rossio, S. Sebastião da Pedreira, etc.
      Os espaços físicos privilegiados pela acção são Lisboa e Mafra. Entre os vários lugares da capital ou dos arredores são referidos com frequência o Terreiro do Paço, o Rossio, S. Sebastião da Pedreira, Odivelas, Xabregas, Azeitão e outros sítios. Nas referências a Mafra, encontramos Vela, onde se constrói o convento, Pêro Pinheiro, serra do Barregudo, no Monte Juno, Torres Vedras e outros locais.
     Outros espaços surgem na obra, embora possuam menor relevo ou sejam meras referências. Estão neste caso Jerez de los Caballeros, onde Baltasar perde a mão, Olivença, Montemor, Aldegalega, Morelena, Pegões, Vendas Novas, Montemor, Évora, Elvas, caia, Coimbra, Holanda ou Áustria.
      Lisboa e Mafra são também espaços sociais. Da primeira, afirma o narrador esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”. Sobre Mafra, encontramos constantes referências a que dava trabalho para muita gente, mas socialmente destruiu famílias e criou marginalização.
     O Alentejo surge igualmente como um espaço social importante, na medida em que 
permite conhecer-se a miséria que então o povo passava, “ “por ser a fome muita nesta 
província”.





Tempo

      Existe um desprezo pelo tempo cronológico. As referências temporais são escassas. Predominam as prolepses o que revela que o narrador é omnisciente. É deduzida a data de 1711: D. João V, “um homem que ainda não fez vinte e dois anos” (D. João nasceu em 1689). As referências temporais decorrem de referências a factos históricos (batalhas, etc.)

      A reconstituição da História passa pela ficção ou, como afirma o próprio José Saramago, “a História é ficção”. Daí se perceba o aparente desprezo do tempo cronológico. As referências temporais são escassas ou apresentam-se por dedução.O discurso flui, recuperando vários fragmentos temporais ou antecipando outros. As
analepses são pouco significativas, apenas surgem a justificar projectos anteriores. O 
pendor oral ou de monólogo mental e as digressões favorecem diversas prolepses que 
conferem ao narrador o estatuto de omnisciência e transformam o discurso num todo 
compreensível, apesar de toda a fragmentação.

     A  data  de 1711, tempo cronológico do início da acção, não surge explícita na obra, 
mas facilmente se deduz pelos dados utilizados. Se a referência a “há quinhentos anos”, 
em 1211, permite concluir que estamos em 1711, também ficamos a conhecer a mesma 
data se soubermos que o rei D. João V nasceu em 1689, há “vinte e dois anos”.

    Várias indicações temporais surgem associadas às primeiras datas. As idades de 
Sete - Sóis (26 anos) ou Blimunda (19 anos); a batalha em frente a Jerez de los Caballeros, em “Outubro do ano passado”; o regresso da nau de Macau que partiu “há vinte meses”, ainda Sete – sóis andava na guerra; o nascimento e baptizado da infanta Maria Bárbara ou do infante D. Pedro, que morrerá com dois anos; e o nascimento do futuro rei D. José em 1714.

     A narrativa termina nove anos depois da sagração do convento de Mafra, 
quando Blimunda encontra Baltasar a ser queimado em auto-de-fé, em Lisboa. Entre os 
condenados estava também o dramaturgo António José da Silva, que foi queimado 
precisamente em 1739.


As Personagens

 D. João V – sonhador, megalómano, minucioso, egocêntrico, poderoso, rico. Surge
como uma caricatura, ridicularizado, através da ironia.

 Baltasar – Tem grande dimensão psicológica. Após ter ficado maneta numa batalha, torna-se pedinte. Conhece Blimunda por quem se apaixona. Vai participar na construção da passarola e do convento. 

 Blimunda – Filha de uma condenada à morte pela Inquisição (por ser cristã-nova), conhece Baltasar. Blimunda é uma vidente que conhece o interior das pessoas.













































































Adaptado de:
http://catarinabarrocas.blogspot.pt/2012/06/memorial-do-convento-categorias-da.html
http://educalab.eu/wiki/images/a/ac/Memorial_do_convento_MATERIAIS_DE_ESTUDO.pdf

Linguagem e estilo de José Saramago

"Cada frase, ou discurso, ou o período, cria-sedentro de mim mais como uma fala do que como uma escrita. A possibilidade da espontaneidade, a possibilidade do discurso em linha recta, enfim, a direito, é muito maior do que se eu me colocasse na posição de quem escreve. 
No fundo, ao escrever estou colocado na posição de quem fala."

José Saramago, in Conversas, Mário Ventura, Publ. Dom Quixote, 1986
 
 
Uma das características mais notórias de José  Saramago é a utilização peculiar da pontuação.
Principal marca: nas passagens do discursodirecto:
-Eliminação do travessão e dos dois pontos;
-A substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de
pontuação pela vírgula;
-Sendo o início de cada fala apenas assinalado pela
maiúscula.







Adjectivação dupla e superlativada
«correm águas abundantes e dulcíssimas para o futuro pomar e horta…» (p.88)
Adjectivação irónica
« feliz povo este que se regala de tais festas e desce à rua para ver desfilar a nobreza…» (p.86)
Aforismo
«Não está homem livre de julgar abraçar a verdade e achar-se cingido como o erro. Como livre também não está de supor abraçar o erro e encontrar-se cingido com a verdade…» (p.164)
Aliteração
«O capelão que leva a cauda quando a cauda tem de ser levada…» (p.86)
Arcaísmo
«devia ser ledice» (p.314)
Comparação
«e assim fica, enroscada como toupeira que encontrou pedra no caminho» (p.15)
Construções anafóricas
«Agora não se vá dizer que, por segredos de confissão divulgados…»;  «Agora não se se vá dizer que D. Maria Ana…»; «Agora não se vá dizer que el-rei contará as luas…» (p.26)
Diminutivos
«o bispo vai fazendo sinaizinhos da cruz...» (p.28); «fitinhas de cores» (p.29); «povinho derramado em pavores e súplicas» (p.29)
Enumeração
«a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove» (p.28); «Está o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o dominantemente, talvez acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou tolerante avó, ou tia azedíssima...» (p.29)
Expressões populares/ provérbios
«ainda agora a procissão vai na praça» (p.11); «olho vê, mão pilha» (p.20)
Gradação
«O homem primeiro tropeça, depois nada, depois corre, um dia voará…» (p.63)
Hipérbole
«à vista do mar de povo que enchia a praça…» (p.98)
Inversões de expressões bíblicas
«Pater nostre que non estis in coelis» (p.159)
Ironía
«El-rei, como os infantes seus manos e suas manas infantas, jantará na Inquisição depois de terminado o ato de fé…» (p.51)
Jogos de palavras
»os santos no oratório apuram o ouvido às ardentes palavras que debaixo  do sobrecéu se murmuram, sobre o céu está, este é o céu e não há melhor…» (p.158)
Latinismos
«Te Deum laudamus» (p.87)

Metáfora

«a ordem franciscana colherá a palama a vitória» (p.26) «a procissão á uma serpente enorme que não cabe direita no Rossio...» (p.158)
Onomatopeias
«arre burro, toque, toque» (p.274)
Polissíndeto
«Isto que aqui vês são as velas que servem para cortar o vento e que se movem segundo as necessidades, e aqui é o leme com que se dirigirá a barca […] e este é o corpo do navio dos ares...» (p.67)
Quiasmo
«todos têm uma parte de ciência e outra de mando, a ciência por causa do mando, o mando por causa da ciência...» (p.252)
Repetições
«não fales, Blimunda, olha só, olha como esses teus olhos que tudo são capazes de ver...» (p.53)
Sinestesia
«puxa o cordão da sineta […] pairam cheiros diversos» (p.17)
Registo de língua
(Popular; Familiar; Cuidado)
Interacção com a literatura portuguesa
(Quadros populares; contos tradicionais) (Luís de Camões, Os Lusíadas; Padre António Vieira, Sermão e Santo António aos Peixes) (Fernando Pessoa, Mensagem) (Estilo Barroco)
Introdução do fantastico
«Entre S. Sebastião da Pedraria da Pedreira e a Ribeira entou Blimunda em trinta e duas casas, colheu vinte e quatro nuvens fechadas, em seis doentes já as não havia, talvez as tivessem perdido há muito tempo, e as restantes duas estavam tão agarradas ao corpo que, provavelmente, só a morte as seria capaz de arrancar de lá. Em cinco outras casas que visitou, já não havia vontade nem alma, apenas o corpo morto, algumas lágrimas ou muito alarido.» (p.182)
A música como metáfora de arte literária
«Se a música pode ser tão excelente mestra de argumentação, quero já ser músico e não pregador, Fico obrigado pelo cumprimento, mas quisera eu que a minha música fosse um dia capaz de expor, contrapor e conclui como fazerem sermão e discurso» (p.164)





















Adaptado de: http://redouanermili3.blogspot.pt/p/linguagem-e-estilo.html

Manual Interacções Português 12ºAno

Dimensão simbólica em "Memorial do Convento"

Esta obra está repleta de simbologia. Tudo nela são elementos simbólicos, desde as ações, as personagens, os espaços, os números e elementos como o Sol, a Lua, o sangue, o fogo, a passarola… Até o título da obra apresenta uma simbologia! “Memorial do Convento” remete para as memórias da construção do convento e tudo o que adveio dessa construção. 
     Por exemplo, o Convento de Mafra, mandado construir por D. João V, simboliza a ostentação régia, a opressão e a vaidade dos poderosos. Representa o sacrifício dos operários que construíram o monumento, a exploração e miséria do povo que nele trabalhou. A personagens de Blimunda, com o seu poder de visão, compreende as coisas sobre a vida, a morte, o pecado e o amor, e simboliza, na obra, olhar da «História» que o narrador exercita, denunciando a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as injustiças da Inquisição, o terror, o obscurantismo de uma época, a miséria e as diferenças sociais. O número sete, que muitas vezes aparece em Memorial do Convento, também carrega alguma simbologia. Sete são as vezes que Blimunda passa em Lisboa, em demanda de Baltasar. Este número regula os ciclos da vida e da morte na Terra e pode ligar-se à ideia de felicidade, de totalidade, de ordem moral e espiritual. O Solassociado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de vida, de renovação de energias (o povo trabalha até à exaustão no convento, Baltasar constrói uma máquina, mesmo depois de amputado). Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite, também Baltasar vence as forças obscuras da ignorância e da intolerância ao voar. A Lua, símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a força vital que é representada pelas vontades recolhidas por Blimundapara fazer voar a passarola.                 Associada a Blimunda, lembra o seu mágico poder de «ver às escuras». Apassarola traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao sonho, foi possível juntar a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a arte, para fazer a passarola voar. Representa o progresso, a liberdade, a alternativa a um espaço de repressão, intolerância e violência.


Entre estes, muitos outros elementos simbólicos comandam a obra, bem como o seu desenvolvimento, tornando-se imprescindíveis para a sua compreensão.  


Adaptado de: http://catarinabarrocas.blogspot.pt/2012/06/dimensao-simbolica-historica-em.html

Categorias da narrativa em "Memorial do Convento"


Acção
        Quando falamos na estrutura de qualquer texto literário narrativo (conto ou romance), estamos a referir-nos ao conjunto de eventos que se vão desenvolvendo e sucedendo ao longo da obra, com limitações relativamente definidas, ou seja, os capítulos. Apesar de, neste romance, os capítulos não estarem numerados, o espaço em branco que surge imediatamente antes da primeira frase de cada um deles leva a crer, sem dúvidas, de que se trata de um novo capítulo.
        Vejamos, por ora, os principais factos que compõem a acção de Memorial do Convento:
  • Construção do Convento de Mafra – o decorrer da construção do convento de ocupa grande parte da acção da obra e tem que ver com a narração de quatro grandes factos: a escolha do local por parte d’el-rei D. João V (Mafra); o lançamento da primeira pedra (em 1717, com direito a visita real e a procissão solene e pomposa); a construção propriamente dita do monumento (da qual sobressai o recrutamento forçado, em duas fases, os trabalhadores do povo, bem como os seus sofrimentos, o trabalho árduo e até a morte de alguns) e, por último, a sagração da Basílica, em 22 de Outubro de 1730.
  • Construção da passarola – esta narrativa é considerada encaixada, por ser paralela à narrativa que diz respeito à construção do convento. A passarola é desenhada e arquitectada pelo Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (depois de seguidos conselhos holandeses sobre o seu combustível, ou seja, âmbar e éter) e com a ajuda de Baltasar e Blimunda, a “máquina de voar” vai sendo construída secretamente na quinda do duque de Aveiro, em São Sebastião da Pedreira. Depois de acabada, seguiu-se o éter (“vontades dos vivos” que a vidente recolhia na hora em que eles morriam) e o primeiro voo da passarola vai sobrevoar Lisboa e Mafra, vindo a cair no Monte do junto, momento este em que o Padre Bartolomeu desaparece e virá a morrer, anos mais tarde, em Toledo (Espanha).
  • Retrato da relação amorosa entre Baltasar e Blimunda – esta é também considerada uma narrativa encaixada e trata de uma relação amorosa “livre”, dado que, depois de os dois se conhecerem no auto-de-fé, que condenou a mãe de Blimunda a açoites públicos e ao degredo em Angola, passaram a viver juntos, sem oura bênção sacerdotal que não a que lhes deu o Padre Bartolomeu. A narração desta relação inclui referências às relações sexuais naturais que resultam do amor entre ambos e que nada têm de obsceno e pecaminoso, uma vez que os dois se amam verdadeiramente, sem necessitarem de acto matrimonial oficial de espécie alguma. Depois de ter ido visitar a passarola ao Monte de Junto (onde passou a estar escondida), Baltasar desaparece misteriosamente, sendo que Blimunda o virá a encontrar, ao fim de nove anos de sofrida procura, a arder numa fogueira resultante de mais um tenebroso e irracional auto-de-fé.
  • Outras narrativas de personagens (cujo papel é menor) que vão surgindo ao longo da obra (João Elvas, Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-Tempo e Baltasar Mateus) – estas narrativas de importância subalterna dizem, regra geral, respeito a autoapresentações destas personagens do Povo (ou antigos soldados, tal como Baltasar Mateus e João Elvas), seguidas de histórias de tradição oral do Povo, contadas à noite, nas tabernas improvisadas no Alto da Vela (loval mafrense exacto da construção do convento).

    Personagens (Dimensão Simbólica)
            Em Memorial do Convento há dois grupos antagónicos de personagens: a classe opressora, representada pela aristocracia e alto clero, e os oprimidos, o povo. No primeiro grupo destaca-se a actuação do Rei, enquanto que no segundo, além de Baltasar e Blimunda, se integram o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, perseguido pela Inquisição, pela modernidade do seu espírito científico, e Domenico Scarlatti que, pela liberdade de espírito e pelo poder subversivo da sua música, é uma figura incómoda para o Poder. É ainda importante referir que, emMemorial do Convento, as personagens históricas convivem com as fictícias, conduzindo à fusão entre realidade e ficção.
    D. João V
            Rei de Portugal de 1706 a 1750, desempenha o papel de monarca de setecentos que quer deixar como marca do seu reinado uma obra grandiosa e magnificente - o Convento de Mafra. Este é construído sob o pretexto de que cumpre uma promessa feita ao clero, classe que "santifica" e justifica o seu poder.
            É símbolo do monarca absoluto, vaidoso, megalómano, egocêntrico, e mantém com a rainha apenas uma relação de "cumprimento do dever" e, em alguns momentos, pretende ser um déspota esclarecido, à semelhança dos monarcas europeus da sua época (favorece, durante algum tempo, o projecto do padre Bartolomeu de Gusmão e contrata Domenico Scarlatti para ensinar música a sua filha, a infanta Maria Bárbara). Dado aos prazeres da carne e a destemperos vários (teve muitos bastardos e a sua amante favorita era a Madre Pauta do Convento de Odivelas). Sacrificou todos os homens válidos e a riqueza do país na construção do convento.
    Maria Ana Josefa
            De origem austríaca, a rainha, surge como uma pobre mulher cuja única missão é dar herdeiros ao rei para glória do reino e alegria de todos. É símbolo do papel da mulher da época: submissa, simples procriadora, objecto da vontade masculina.
    Baltasar Sete-Sóis
            Baltasar Mateus, de alcunha Sete-Sóis, deixa o exército depois de ter ficado maneta em combate contra os espanhóis, conhece Blimunda em Lisboa, e com ela partilha a vida e os sonhos. De ex-soldado passa a açougueiro em Lisboa e, posteriormente, integra a legião de operários das obras do convento. A sua tarefa máxima vai ser a construção da passarola, idealizada pelo padre Bartolomeu de Gusmão, passando a ser o garante da continuidade do projecto, quando o padre Bartolomeu desaparece em Espanha.
            Baltasar acaba por se constituir como a personagem principal do romance, sendo quase "divinizado" pela construção da passarola: "maneta é Deus, e fez o universo. (...) Se Deus é maneta e fez o universo, este homem sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar. " - diz o padre Bartolomeu a propósito do seu companheiro de sonhos. Após a morte do padre, Baltasar ocupa-se da passarola e, um dia, num descuido, desaparece com ela nos céus. Só é reencontrado, nove anos depois, em Lisboa, a ser queimado no último auto-de-fé realizado em Portugal.
            O simbolismo desta personagem é evidente, a começar pelo seu nome: sete é um número mágico, aponta para uma totalidade (sete dias da criação do mundo, sete dias da semana, sete cores do arco-íris, sete pecados mortais, sete virtudes); o Sol é o símbolo da vida, da força, do poder do conhecimento, daí que a morte de    Baltasar no fogo da Inquisição signifique, também, o regresso às trevas, a negação do progresso. Baltasar transcende, então, a imagem do povo oprimido e espezinhado, sendo o seu percurso marcado por uma aura de magia, presente na relação amorosa com Blimunda, na afinidade de "saberes" com o padre Bartolomeu e no trabalho de construção da passarola.
            Baltasar é uma das personagens mais bem conseguidas de todo o romance porque descrever a ambição de um rei, as intrigas duns frades e a loucura de um cientista é relativamente fácil, mas escolher uma personagem do povo, maneta e vagabunda, que aparentemente não tem muito para dizer e convertê-la no fio condutor da narrativa e no protagonista duma das mais belas e sentidas histórias de amor, é algo que só conseguem autores como Cervantes, que de um criado como Sancho Pança criou um arquétipo e um digno "antagonista" de Dom Quixote.
            Baltasar é um homem simples, elementar, fiel, terno e maneta, que confina a capacidade de surpresa com a resignação típica das pessoas humildes de coração e de condição. Aceita a vida que lhe foi dado viver e a mulher que o destino lhe ofereceu, sem assombro nem protestos; acata as suas circunstâncias e não tem medo nem do trabalho nem da morte. Não é um herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem.
    Blimunda de Jesus
            Blimunda de Jesus é "baptizada" de Sete-Luas pelo padre Bartolomeu de Gusmão ("Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, (...) Blimunda, que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o baptismo foi de padre, não alcunha de qualquer um").
            Conhece Baltasar quando assiste à partida de sua mãe, acusada de feitiçaria, para o degredo. Logo os dois se apaixonam, e este amor puro e verdadeiro foge às convenções, subvertendo a moral tradicional e entrando no domínio do maravilhoso - primeira noite de amor.
            Blimunda tem um dom: vê o interior das pessoas quando está em jejum, herdou da mãe um "outro saber" e integra-se no projecto da passarola, porque, para o engenho voar, era preciso "prender" vontades, coisa que só Blimunda, com o seu poder mágico, era capaz de fazer. Blimunda é, simultaneamente, uma personagem que releva o domínio do maravilhoso, pelo dom que tem de ver "o interior" das pessoas (poder que nunca exerce sobre Baltasar: "Nunca te olharei por dentro"), porque amar alguém é aceitá-lo sem reservas. Blimunda encerra uma dimensão trágica na vivência da morte de Baltasar.
            Simbolicamente, o nome da personagem acaba por funcionar como uma espécie de reverso do de Baltasar. Para além da presença do sete, Sol e Lua completam-se: são a luz e a sombra que compõem o dia - Baltasar e Blimunda são, pelo amor que os une, um só. A relação entre os dois é também subversiva, porque não existe casamento oficial e porque os dois têm os mesmos direitos, facto inverosímil em pleno século XVIII.
            Como outras personagens femininas de Saramago, também Blimunda tem uma grande firmeza interior, uma forma de oferecer-se em silêncio e de aceitar a vida e os seus desígnios sem orgulho nem submissão, com a naturalidade de quem sabe onde está e para quê.
    Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
            O padre Bartolomeu, personagem real da História, forma com Baltasar e Blimunda o núcleo mágico e trágico do romance. Vive com uma obsessão, construir a máquina de voar, o que o leva a encetar uma investigação científica na Holanda. Como cientista ignora os fanatismos religiosos da época e questiona todos os principias dogmáticos da Igreja. O seu sonho de voar e as suas inabaláveis certezas científicas revelam orgulho, "ambição de elevar-se um dia no ar, onde até agora só subiram Cristo, a Virgem e alguns santos eleitos" e tornam-no persona non grata para a Inquisição que o acusa de bruxaria, obrigando-o a fugir para Espanha e a deixar o seu sonho/projecto nas mãos de Baltasar.
    A      sua obsessão de voar domina-o de tal forma, que ele não se inibe de integrar no seu projecto um casal não abençoado pela Igreja e de aceitar e usufruir das capacidades heréticas de Blimunda, que farão a passarola voar. A passarola, símbolo da concretização do sonho de um visionário, funciona de uma forma antagónica ao longo da narrativa: é ela que une Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu, mas também é ela que vai acabar por separá-los.
    Domenico Scarlatti
            Artista estrangeiro contratado por D. João V para iniciar a infanta Maria Bárbara na arte musical. O poder curativo da sua música liberta Blimunda da sua estranha doença, permitindo-lhe cumprir a sua tarefa ("Durante uma semana (...) o músico foi tocar duas, três horas, até que Blimunda teve forças para levantar-se, sentava-se ao pé do Cravo, pálida ainda, rodeada de música como se mergulhasse num profundo mar, (...) Depois, a saúde voltou depressa").
            Scarlatti é cúmplice silencioso do projecto da passarola ("Saiu o músico a visitar o convento e viu Blimunda, disfarçou um, o outro disfarçou, que em Mafra não haveria morador que não estranhasse, e (...) fizesse logo seus juízos muito duvidosos”).
            É, ainda, Scarlatti que dá a notícia a Baltasar e Blimunda da morte do padre Bartolomeu. A música do cravo de Scarlatti simboliza o ultrapassar, por parte do homem, de uma materialidade excessiva, e o atingir da plenitude da vida.
            Bartolomeu de Gusmão, esse, aliado em diálogo excepcional com o músico Scarlatti, o único que pode de raiz compreender as suas congeminações aladas, representa a possibilidade de articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo (...) São os caminhos da ficção os que mais justificadamente conduzem ao encontro da verdade.

    Tempo
            O tempo em Memorial do Convento pode ser perspectivado segundo três vertentes: o tempo histórico (pertencente à História de Portugal); o tempo desta história contada por Saramago, isto é, a sua narrativa e, por último, o tempo do discurso que é aquele que, sendo relativamente vago (dias, meses, anos), remete para a sucessão de acontecimentos na narrativa.
            Já sabemos que o tempo histórico corresponde a alguns anos do reinado de D. João V, designadamente no que se refere à sua promessa de emergir um convento de franciscanos “em troca” de um descendente.
            Assim, a primeira pedra da obra foi colocada no dia 17 de Novembro de 1717 (o que, de facto, aconteceu historicamente), sendo a Basílica do Convento de Mafra inaugurada ainda em vida d’el-rei, a 22 de Outubro de 1730, depois de aceleradas as obras e recrutados à força milhares de membros do Povo.
            No sentido de confirmar este período histórico, Saramago oferece ao leitor um conjunto de descrições pormenorizadas sobre personagens, espaços e outros eventos que os registos históricos também confirmam. A estes pormenores compete dar “cor local”, ou seja, desenhar o ambiente em que personagens e história se desenvolvem.
            Vejamos alguns exemplos: a informação de que o arquitecto alemão Frederico Ludovice foi o encarregado da obra durante algum tempo; a vinda de materiais do Brasil e de outros países da Europa (nomeadamente obras de arte e decoração); o pedido do rei em adiantar as obras e sua consequente inauguração e a vinda de, pelo menos, uma pedra gigante da localidade de Pêro Pinheiro para Mafra.
            Quanto ao tempo da narrativa saramaguiana, existem, no romance, informações explícitas ou indirectas a vários momentos da nossa cronologia, que se resumem a 28 anos. Consideremo-los agora:
    • 1711 é a primeira referência temporal, quando se lê a propósito d’el-rei D. João V “um homem que ainda não fez vinte e dois anos” (el-rei nasceu em 1689);
    • 17 de Novembro de 1717 marca o início das obras em Mafra, com a colocação e bênção da primeira pedra;
    • 8 de Junho de 1719 é a data referida para a procissão do Corpo de Deus;
    • 1727 é o ano implicado na sequência frásica “dezasseis anos passaram desde que a vimos pela primeira vez” – sobre Blimunda;
    • 22 de Outubro de 1730, data indicada por D. João V para a sagração da Basílica, momento da celebração dos seus 41 anos de idade;
    • 1739 é a última data implicada na obra, por meio da frase que inicia o último capítulo de Memorial do Convento, “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar”, momento que se seguiu ao desaparecimento misterioso deste homem.
            No que diz respeito ao tempo do discurso, o romance refere-se à passagem do tempo dentro da narrativa, através do recurso a dias, meses e anos, como acontece nos exemplos a seguir indicados:
    • “Ao outro dia, depois d’el-rei partir para a cortes”;
    • “Aí está Junho”;
    • “Agosto acabou, Setembro vai em meio”.
            É neste tipo de tempo, o do discurso, que o narrados, omnisciente e sempre sabedor, manipula as informações que quer dar aos leitores, referindo-se a tempos anteriores à construção do convento, ou posteriores a ela. Essa técnica de referência temporal é conseguida através de analepses, prolepses, elipses e resumos, que vão fazendo variar o ritmo do discurso e da narração.
    Espaço
            Espaço Físico  em termos físicos, os espaços privilegiados são Lisboa e Mafra, locais que correspondem à construção dos dois projectos impulsionadores da acção e de observação privilegiada dos autos-de-fé como autoridade reguladora que representa o poder da Igreja;
            Espaço Social – corresponde à recriação de ambientes da época, neste caso o Portugal do século XVIII marcado pelo Iluminismo trazido pelos estrangeirados e ao mesmo tempo pelo obscurantismo da população e o medo do poder da Inquisição. Refere-se aos meios (procissões, corte, palácios, igrejas) em que as classes sociais se movimentam e que contribuem, afinal, para o leitor perceber as grandes diferenças (injustas) entre elas;
            Espaço Psicológico – diz respeito a reflexões , meditações, visões, sonhos e a demais pensamentos das personagens, tais como os momentos de reflexão e angústia de Blimunda, quando procura Baltasar e vagueia por Portugal inteiro (e Espanha).
    Narrador
            O narrador do Memorial do Convento é, quanto à ciência (ou conhecimento da história), claramente omnisciente, o que significa que conhece toda a história, podendo manipulá-la, referindo-se a momentos anteriores (analepses) e posteriores (prolepses) que vai espalhando pelo meio dessas narrativas.
            Por ser omnisciente é que o narrador se assume também comentador e crítico (através da ironia e do sarcasmo) dos momentos e acontecimentos que vai narrando, muitas vezes tecendo comentários numa espécie de tom confessional.
            Quanto à sua presença no romance, este narrador assume três posições: é heterodiegético, quando se refere às personagens na terceira pessoa do singular ou do plural; é homodiegético, quando se inclui nas narrações ou comentários e autodiegético, quando discursa sobre a moral (ou falta dela) das personagens e dos tempos do seu romance – neste caso é o verdadeiro protagonista da narração, pois está a expressar os seus pontos de vista.
            A propósito de pontos de vista, o narrador actualiza-nos por meio de duas estratégias de focalização de personagens e ambientes: a focalização omnisciente (mostra tudo saber sobre a história) e a focalização interna (dar oportunidade a uma personagem de perspectivar outras personagens ou ambientes).

    Adaptado de: http://tsilvawebfolio.blogspot.pt/2012/06/memorial-do-convento-categorias-da.html

    terça-feira, 11 de dezembro de 2012

    Biografia e Bibliografia de José Saramago

          José Saramago era um escritor português, nasceu a 16 de Novembro de 1992, em Azinhaga, no concelho da Golegã e faleceu a 18 de Junho de 2010, em Lanzarote.
    Foi ficcionista, coronsta, poeta e autos dramático, teve a honra de ser o primeiro autor português distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, prepetuado com o prestígio das letras portuguesas contemporâneas além-fronteiras.
     
          Oriundo de uma família humilde, teve dificuldades financeiras econémicas prolongar os estudos liceais, depois de obter o curso de serralheiro macânico, desempenhou  simples funções burocráticas, em 1975 ficou desempregado, porém não o impedio de ter desempenho político ativo, antes e depois do regime de salazar, adquirio a um saber literário, cultural, filosófico e histórico imcomparável, tornouce um dos raros escritores profissionais portugueses.

          Figura de primeiro plano da literatura contemporânea nacional e internacional, a sua obra encontra-se traduzida em diversas línguas, sendo objeto de vários estudos académicos.
         Revelou-se como poeta com:
    • A coletânea Os Poemas Possíveis (1966)
    • A que se seguiria Provavelmente Alegria (1970)
     
    Desenvolvendo, simultaneamente, uma longa experiência como cronista, coligida nos volumes:
    • Deste Mundo e do Outro (1971)
    • A Bagagem do Viajante (1973)
    • As Opiniões Que o D. L. Teve (1974)
    • Os Apontamentos (1976)
     
     
          Destes dois registos fez o campo de ensaio, aos 44 anos, encetar uma amadurecida carreira de romancista, que deixaria para trás experiências ficcionais ainda não suficientemente reveladoras, como Terra de Pecado, de 1947.       Manual de Pintura e de Caligrafia e Levantado do Chão são os dois primeiros títulos de uma atividade romanesca que, concebida como registo privilegiado para uma interrogação sobre a relação entre o homem e a História, entre o individual e o coletivo, entre o escritor e a sociedade, nos anos 80, conhece um sucesso fulgurante, junto do grande público e da crítica especializada.  
      
    É durante esta década que publica os títulos que o celebrizaram, como:
    • Memorial do Convento (1982)
    • O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)
    • A Jangada de Pedra (1986)
         Onde problematiza, de forma imaginativa e humorada, numa dinâmica narrativa livre (sem constrições, seja ao nível da expressão linguística, marcada, do ponto de vista formal, por uma estratégia de integração, sem marcas gráficas, do discurso dialogal das personagens e do narrador no fluxo contínuo do texto; seja ao nível da efabulação de personagens ou do tempo), as modalidades de ficcionalização do tempo histórico, quer remetido para um passado revisto a partir da atenção conferida às histórias reais ou sonhadas dos seres anónimos que construíram a História (Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis), quer concebida como crónica de um futuro virtual que, sob a sua forma alegórica, não deixa de refletir uma inquietação sobre o presente (A Jangada de Pedra).

    Posteriormente publicou outras obras, de entre as quais merecem menção:
    • História do Cerco de Lisboa (1989),
    • O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1992),
    • Ensaio sobre a Cegueira (1996),
    • Todos os Nomes (1997),
    • A Caverna (1999),
    • Ensaio sobre a Lucidez (2004),
    • As Intermitências da Morte (2005),
    • As Pequenas Memórias (2006)
    • A Viagem do Elefante (2008) .

    A bibliografia de José Saramago abrange ainda textos teatrais:
    • Que Farei Com este Livro
    • A Segunda Vida de São Francisco
    • In Nomine Dei
    • Don Giovanni 
    • Dissoluto Absolvido

    O registo diarístico com a edição de Cadernos de Lanzarote e ainda uma breve incursão à literatura infanto-juvenil com A Maior Flor do Mundo, de 2001, livro escrito em parceria com o ilustrador João Caetano, que acabou por receber o Prémio Nacional de Ilustração atribuído nesse ano. Em 2008, Saramago viu o seu best-seller Ensaio sobre a Cegueira ser adaptado para o cinema, pela mão do realizador brasileiro Fernando Meirelles.

    José Saramago, comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada desde 1985 e cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas desde 1991, tem recebido ao longo da sua carreira numerosas distinções. Para além do prémio Nobel, foi galardoado, entre outros, com:
    • Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, em 1991;
    • Grande Prémio Vida Literária, atribuído pela APE, em 1993;
    • Prémio Camões, em 1995;
    • Prémio de Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores, em 1995.
    Em 1999 foi doutorado Honoris Causa pela Universidade de Nottingham, em Inglaterra; em 2000 pela Universidade de Santiago, no Chile; e, em 2004, pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e pela Universidade de Charles de Gaulle-Lille III, em França.

    Adaptadas de: http://www.infopedia.pt/$jose-saramago