quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Contextualização da ação da obra "Memorial do Convento"


Estrutura

A estrutura de um romance assenta na coexistência de vários conflitos que se enredam e através do texto manifestam ou desocultam a realidade e os problemas do ser humano.
Em Memorial do Convento, observa-se uma reinvenção da História, de actos e de comportamentos para despertar os leitores para situações reais perturbantes que devem ser analisadas.  Pela ficção e com a sua palavra reveladora e denunciadora, José Saramago propõe o repensar da História à luz das mentalidades actuais e possibilita a consciencialização sobre a verdade do homem. Assim, consegue a missão do escritor 
que, numa realização estética, fornece uma mensagem ética.

A estrutura de Memorial do Convento apresenta duas linhas condutoras da acção – construção do convento de Mafra e a relação entre Baltasar e Blimunda – que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na História ou fantasiados.

Memorial do Convento está dividido em vinte e cinco partes, ou capítulos, não nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecidas pelos espaços em branco que as separam.

Acção

    O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu Lourenço são os protagonistas das acções da obra.
    Acção principal – construção do convento de Mafra.
   Acções secundárias – construção da passarola e a relação entre Baltasar e Blimunda.
   A acção principal decorre no século XVIII. Ambiente da época: sofrimento dos trabalhadores do convento, condição social e económica do país, autos-de-fé, comportamento do clero, etc.
  O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu protagonizam as diversas acções que se entretecem em Memorial do Convento.

      A acção principal é a construção do convento de Mafra. Esta acção resulta da reinvenção da História pela ficção. Situando-se no início do século XVIII, encontra-se um entrelaçamento de dados históricos, como o da promessa de D. João V de construir um convento em Mafra, e o do sofrimento do povo que nele trabalhou. Conhece-se a situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola voador pelo padre Bartolomeu de Gusmão, as críticas ao 
comportamento do clero, os casamentos da infanta D. Maria Bárbara e do príncipe D. José.

      Paralelamente à acção principal, encontra-se uma acção que envolve Baltasar Sete - Sóis e Blimunda Sete - Luas. São estas as personagens que estabelecem, muitas vezes, o fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.

      A centralidade conferida às obras do convertido e os espaços sociais de Lisboa ou de Mafra dão frequentemente lugar a uma intriga de profunda humanidade trágica. As duas acções voluntariamente surgem em fragmentos que se reconstituem por encaixes vários e recriam situações, costumes, tradições, ambiente e problemas.




Espaço

      Os espaços principais são Lisboa e Mafra. Principais locais referidos na capital: Terreiro do Paço, Rossio, S. Sebastião da Pedreira, etc.
      Os espaços físicos privilegiados pela acção são Lisboa e Mafra. Entre os vários lugares da capital ou dos arredores são referidos com frequência o Terreiro do Paço, o Rossio, S. Sebastião da Pedreira, Odivelas, Xabregas, Azeitão e outros sítios. Nas referências a Mafra, encontramos Vela, onde se constrói o convento, Pêro Pinheiro, serra do Barregudo, no Monte Juno, Torres Vedras e outros locais.
     Outros espaços surgem na obra, embora possuam menor relevo ou sejam meras referências. Estão neste caso Jerez de los Caballeros, onde Baltasar perde a mão, Olivença, Montemor, Aldegalega, Morelena, Pegões, Vendas Novas, Montemor, Évora, Elvas, caia, Coimbra, Holanda ou Áustria.
      Lisboa e Mafra são também espaços sociais. Da primeira, afirma o narrador esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”. Sobre Mafra, encontramos constantes referências a que dava trabalho para muita gente, mas socialmente destruiu famílias e criou marginalização.
     O Alentejo surge igualmente como um espaço social importante, na medida em que 
permite conhecer-se a miséria que então o povo passava, “ “por ser a fome muita nesta 
província”.





Tempo

      Existe um desprezo pelo tempo cronológico. As referências temporais são escassas. Predominam as prolepses o que revela que o narrador é omnisciente. É deduzida a data de 1711: D. João V, “um homem que ainda não fez vinte e dois anos” (D. João nasceu em 1689). As referências temporais decorrem de referências a factos históricos (batalhas, etc.)

      A reconstituição da História passa pela ficção ou, como afirma o próprio José Saramago, “a História é ficção”. Daí se perceba o aparente desprezo do tempo cronológico. As referências temporais são escassas ou apresentam-se por dedução.O discurso flui, recuperando vários fragmentos temporais ou antecipando outros. As
analepses são pouco significativas, apenas surgem a justificar projectos anteriores. O 
pendor oral ou de monólogo mental e as digressões favorecem diversas prolepses que 
conferem ao narrador o estatuto de omnisciência e transformam o discurso num todo 
compreensível, apesar de toda a fragmentação.

     A  data  de 1711, tempo cronológico do início da acção, não surge explícita na obra, 
mas facilmente se deduz pelos dados utilizados. Se a referência a “há quinhentos anos”, 
em 1211, permite concluir que estamos em 1711, também ficamos a conhecer a mesma 
data se soubermos que o rei D. João V nasceu em 1689, há “vinte e dois anos”.

    Várias indicações temporais surgem associadas às primeiras datas. As idades de 
Sete - Sóis (26 anos) ou Blimunda (19 anos); a batalha em frente a Jerez de los Caballeros, em “Outubro do ano passado”; o regresso da nau de Macau que partiu “há vinte meses”, ainda Sete – sóis andava na guerra; o nascimento e baptizado da infanta Maria Bárbara ou do infante D. Pedro, que morrerá com dois anos; e o nascimento do futuro rei D. José em 1714.

     A narrativa termina nove anos depois da sagração do convento de Mafra, 
quando Blimunda encontra Baltasar a ser queimado em auto-de-fé, em Lisboa. Entre os 
condenados estava também o dramaturgo António José da Silva, que foi queimado 
precisamente em 1739.


As Personagens

 D. João V – sonhador, megalómano, minucioso, egocêntrico, poderoso, rico. Surge
como uma caricatura, ridicularizado, através da ironia.

 Baltasar – Tem grande dimensão psicológica. Após ter ficado maneta numa batalha, torna-se pedinte. Conhece Blimunda por quem se apaixona. Vai participar na construção da passarola e do convento. 

 Blimunda – Filha de uma condenada à morte pela Inquisição (por ser cristã-nova), conhece Baltasar. Blimunda é uma vidente que conhece o interior das pessoas.













































































Adaptado de:
http://catarinabarrocas.blogspot.pt/2012/06/memorial-do-convento-categorias-da.html
http://educalab.eu/wiki/images/a/ac/Memorial_do_convento_MATERIAIS_DE_ESTUDO.pdf

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